Nos dias de hoje é comum pensarmos que a inovação deve seguir algumas regras, ou alguns processos, para que seja bem-sucedida. Será mesmo?
Nosso mundo está em constante transformação e, apesar de parecer um fenômeno recente, a inovação sempre teve um papel central na nossa evolução. Parece um tanto quanto obvio nos lembrarmos de nomes como Elon Musk, Bill Gates e Steve Jobs. No entanto, não podemos esquecer que as inovações criadas por eles foram possíveis pelas inovações e descobertas de pessoas como Arquimedes, Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Newton e Einstein. Como disse Newton em uma carta para Robert Hook, de 5 de fevereiro de 1676, “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”
A inovação é, e sempre será, parte central da nossa sociedade e evolução como espécie. Eu não tenho a menor dúvida a respeito disso. O que é muito discutido, especialmente nos dias de hoje, é como isso ocorre.
Quais as regras que regem a inovação?
A inovação deve ter regras?
O processo criativo pode ser controlado ou deve ocorrer naturalmente?
A revolução industrial, iniciada no século XVIII, trouxe uma nova abordagem para o cotidiano das pessoas. Começamos a trabalhar com processos sequenciais, métricas de desempenho, avaliações de resultado e tantas outras coisas até então desconhecidas. O mundo mudou muito. Pessoas migraram do campo para a cidade e aprenderam um novo ofício. A densidade populacional de grandes centros cresceu como nunca. Doenças novas surgiram e descobrimos a cura. Tudo isso devido a padronização e aos processos realizados em larga escala. De repente, criamos a indústria e, posteriormente, o consumo.
Após essa escalada na produtividade e padronização mundial, começamos a nos perguntar, agora como podemos inovar novamente? Inovações passaram a ser designadas a gênios e predestinados, fora do alcance de pessoas normais. Mas por quê? Simples, pois em ambientes com regras muito bem definidas a inovação não consegue sobreviver, ela acaba sendo suplantada pela rotina e pelas regras.
Mas então, para inovarmos devemos descartar todas as regras? Agora vale tudo? Não é bem assim, para criarmos um ambiente inovador algumas regras são necessárias, não podemos confundir inovação com anarquia. Recentemente eu li o livro “A regra é não ter regras” do Reed Hastings, CEO da Netflix. Neste livro Reed nos traz 9 regras para que a cultura de inovação seja sólida e escalável. Vamos a elas:
Desenvolva a densidade de talento
Esta foi a forma do Reed de falar sobre times de alta performance. A Netflix, durante uma crise vivida em 2001, teve que desligar boa parte dos seus funcionários. Apesar de dolorida para os sócios, a medida trouxe lições importantes. Ao priorizar que somente os melhores fossem mantidos na empresa, a Netflix aumentou consideravelmente a sua densidade de talento, produzindo da mesma forma que antes com um número bem menor de pessoas. A necessidade acabou mostrando para Reed e seu time qual o primeiro passo para a cultura da Netflix.
Estimule a sinceridade
Com uma grande densidade de talentos, alguns paradigmas podem ser quebrados, como ser extremamente sincero com seus colegas de trabalho. A sinceridade, desde que não seja maldosa, é fortemente incentivada dentro da Netflix. Segundo Reed, sermos sinceros e diretos, sem rodeios, agiliza muito a comunicação e a resolução de problemas, tornando todos mais produtivos.
Comece a remover os controles
Em uma empresa com grande densidade de talentos e extremamente sincera, onde podemos confiar no bom senso das pessoas, podemos começar a remover os controles. Qual a razão de uma política de despesas rígida se as pessoas têm bom senso? Por que as pessoas precisam de horários definidos para trabalhar? Por que precisamos de políticas de férias? Todas essas coisas acabam se tornando irrelevantes quando temos pessoas inteligentes e com bom senso trabalhando conosco.
Fortaleça a densidade de talento
Um ambiente de trabalho mais flexível e inovador favorece o aumento da densidade de talento. Pessoas inteligentes e criativas tendem a gostar de trabalhar em ambientes com menor nível de controle. Alie isso ao melhor salário do mercado e você terá excelentes profissionais querendo trabalhar na sua empresa.
Aumente a sinceridade
Já temos uma grande densidade de talentos, com autonomia e trabalhando pelo bem da companhia. Como podemos aumentar o nível de sinceridade? Agora é a hora da empresa começar a compartilhar suas informações organizacionais, inclusive as mais estratégicas. No caso da Netflix, todas as informações são compartilhadas com os colaboradores de forma irrestrita.
Elimine mais controles
O time já está acostumado a ter liberdade, possuí bom senso e está recebendo feedback constante e sincero. Por que precisamos que as decisões sejam aprovadas com os líderes? Se o time está funcionando mesmo, não há mais a necessidade de aprovação. Quando alguém errar, receberá o feedback e poderá melhorar.
Maximize a densidade de talento
Agora é a hora de começar a testar o nível de qualidade do time. A Netflix desenvolveu uma ferramenta chamada de “Teste de retenção”. Vamos supor que alguém peça demissão, você se esforçaria para reter essa pessoa? Em uma crise, essa pessoa estaria fora da lista de desligamentos? Se a resposta para essas duas perguntas foi sim, esta pessoa está indo bem. Se alguma foi não, demita e contrate outra pessoa mais aderente ao cargo.
Maximize a sinceridade
Com um time bastante maduro, bom senso e sentimento de dono, agora é a hora de maximizar a sinceridade. É a hora de implantar um círculo de feedbacks construtivos e contínuos para que todos possam evoluir de forma madura.
Elimine a maioria dos controles
Agora você já pode operar praticamente sem controles e regras. Neste momento o mais importante é o contexto. As pessoas sabem dos resultados que a companhia quer alcançar. Elas fazem uma ideia do contexto que precisa ser seguido para isso. Então nada melhor do que dar a liberdade para que elas construam o caminho até os resultados que a empresa quer construir para o seu futuro.
E então, qual a regra?
Essa é uma ótima pergunta. Eu, particularmente, não gosto da dicotomia entre bom e ruim. Na minha opinião, todas as decisões e situações são boas e ruins ao mesmo tempo. Não existe pílula milagrosa, cada caso é um caso. Eu conheço empresa tradicionais que estão inovando a nível Netflix. Eu também conheço empresas de tecnologia que estão operando da mesma forma que as indústrias operavam na época da revolução industrial.
A regra é não ter regras, como diz o livro de Reed Hastings e Erin Meyer. Quando falamos de Inovação e suas regras, estamos provocando uma discussão, pois na inovação e no empreendedorismo não existem regras. Seguimos somente princípios como, ética, trabalho duro, respeito e tantos outros. Para os empreendedores a liderança é sempre pelo contexto.